A Hipótese da Xenohormese

Por que moléculas produzidas por plantas sob estresse (seca, ataque de fungos, radiação UV) beneficiam a saúde humana? A hipótese da Xenohormese sugere que evoluímos para reconhecer esses compostos como sinais ambientais. Quando ingerimos plantas estressadas (ricas em polifenóis), nosso corpo interpreta isso como um aviso de “tempos difíceis à frente” e ativa mecanismos de defesa e reparo celular para aumentar as chances de sobrevivência.

O Trans-Resveratrol (3,5,4’-trihidroxi-trans-estilbeno) é o exemplo clássico dessa sinalização.

Ativação das Sirtuínas (SIRT1)

O principal alvo molecular do Resveratrol é a família de proteínas Sirtuínas, especificamente a SIRT1. As sirtuínas são desacetilases dependentes de NAD+ que regulam a expressão gênica.

• Mimetismo de Restrição Calórica: A ativação da SIRT1 desencadeia vias metabólicas idênticas às observadas durante o jejum prolongado ou restrição calórica severa — as únicas intervenções comprovadas para estender a vida máxima em mamíferos.
• Biogênese Mitocondrial: A SIRT1 ativa o PGC-1α, o “regulador mestre” que estimula a célula a criar novas mitocôndrias, melhorando a eficiência metabólica e a oxidação de gorduras.

Trans vs. Cis: A Estereoquímica Importa

O Resveratrol existe em dois isômeros geométricos: cis- e trans-.

• Trans-Resveratrol: É a forma biologicamente ativa e estável encontrada na casca da uva e no Polygonum cuspidatum. É a molécula utilizada em quase todos os estudos clínicos de sucesso.
• Cis-Resveratrol: É instável e tem pouca atividade biológica.

Muitos suplementos rotulados apenas como “Resveratrol” contêm misturas de baixa pureza ou extratos de vinho com quantidades ínfimas do isômero trans. Para eficácia clínica, a padronização em Trans-Resveratrol é não-negociável.

Neuroproteção e Barreira Hematoencefálica

Diferente de muitos antioxidantes que não conseguem chegar ao cérebro, o Resveratrol atravessa a barreira hematoencefálica. Estudos mostram que ele pode:

1. Reduzir a neuroinflamação inibindo a ativação da microglia.
2. Promover a clearance (limpeza) de peptídeos beta-amiloide (associados ao Alzheimer).
3. Melhorar o fluxo sanguíneo cerebral (perfusão), o que é crítico para a manutenção cognitiva em idosos.

Em resumo, o Resveratrol não é apenas um “antioxidante”; é um modulador epigenético que instrui suas células a entrarem em modo de reparo e eficiência.

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Referências Bibliográficas

1. Howitz, K.T. & Sinclair, D.A. (2008). “Xenohormesis: sensing the chemical cues of other species”. Cell. Disponível aqui.
2. Lagouge, M. et al. (2006). “Resveratrol improves mitochondrial function and protects against metabolic disease by activating SIRT1 and PGC-1alpha”. Cell. Disponível aqui.
3. Vang, O. et al. (2011). “What is new for resveratrol? Is trans-resveratrol more bioavailable and effective than cis-resveratrol?”. Annals of the New York Academy of Sciences.
4. Moussa, C. et al. (2017). “Resveratrol regulates neuro-inflammation and induces adaptive immunity in Alzheimer’s disease”. Journal of Neuroinflammation. Disponível aqui.